... Hoje são setenta e cinco dias da morte. E vinte e dois anos do casamento. Dela não guardo queixa. Tão econômica, do dinheiro usava só a metade. Por que não gastou tudo? Não deu, ela acudia. Não tive coragem. Essa roupinha sabe quem costurou? Existe dona igual? Candidata é que não falta. As filhas acham que devo. Viúva moça, solteira de prenda. Até com dentinho de ouro. Alguma que nem mereço. Tão enfeitada e viçosa. Se foi plano de Deus, bem sei, devo me conformar. De dia me distraio na oficina. Mas de noite? Pensando nela me bato a noite inteira. Minha cama, nela eu deitava. Colcha de pena de colibri, com ela me cobria. Doce cadeira de balanço, nela me embalava. Apagada a luz, erguia a camisola. Cego, de repente eu via no lombinho tão branco duas luas fosforescendo. Saudade judia do corpo? Sinto a vista cansada, mal posso ler. Toda manhã faço a barba, ainda aparo o bigode. Ela morreu e não raspei o bigode. Três dias que o olho está seco. Me esbofeteio com força. Chora, maldito. Ela, a Maria, que não deixa o sargento. Já prendo esse vagabundo. Pelo amor de Deus, sargento. Não faça isso. Precisa de uma lição, o bandido. Ao nenê faminto ela oferece o bico negro do seio O culpado é o Balaio de Pulga. Não cabe mesa nem cadeira. Estreito corredor, dois ou três caixotes, mais os bêbados sempre lugar para mais um. O sargento devia fechar. É uma perdição. Do Balaio o João sai cambaleando. Verte em plena praça um rio de espuma onde ela cai já não cresce a grama. S
Peso: | 0,4 kg |
Número de páginas: | 144 |
Ano de edição: | 1980 |
ISBN 10: | 8501017051 |
ISBN 13: | 9788501017055 |
Altura: | 21 |
Largura: | 14 |
Comprimento: | 1 |
Edição: | 3 |
Idioma : | Português |
Tipo de produto : | Livro |
Assuntos : | Contos e Crônicas |
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